Esta entrevista foi realizada por Angelina Kovalyova - estudante de doutorado na Universidade de Tsukuba
Contexto
Sou originalmente do Tennessee, nos Estados Unidos, e atualmente estou fazendo meu doutorado na Universidade de Osaka, estudando Política Internacional. Na verdade, este é meu quarto ano de doutorado, mas o programa é oficialmente de três anos. Eu estendi o programa por um ano e, a partir de abril, vou estendê-lo mais uma vez.
Área de Estudo
Eu estudo a relação entre o governo e a mídia, especificamente me concentro em como a cobertura midiática de crises humanitárias é impactada pelas políticas governamentais, e como as políticas governamentais são impactadas por essa cobertura midiática da crise. É uma relação simbiótica.
Bolsa de Estudos
Eu participei do Programa de Bolsas MEXT durante os primeiros seis anos no Japão. Fiz um ano como Estudante de Pesquisa, dois anos para o Mestrado e depois os três primeiros anos do meu Doutorado. Mas como o programa tem duração de apenas três anos, quando o estendi para o quarto ano, esse financiamento terminou.
Felizmente, devido à situação complexa da pandemia, muitos estudantes internacionais receberam isenção total de mensalidades das universidades, e eu consegui obter isso. Portanto, não preciso pagar por nenhuma parte dos meus estudos, mas pago pelas despesas diárias de subsistência.
O dia a dia como estudante de doutorado
Atualmente, já concluí todas as minhas disciplinas, então estou focada apenas no trabalho da tese. E como estou em um programa de humanidades, não há laboratórios e não estou realizando nenhum tipo de experimento.
É tudo bastante independente. Eu faço meu próprio cronograma, o que é ótimo, mas também um pouco avassalador. Faço quase tudo em casa e, talvez uma vez a cada mês ou dois, vou ao campus para me encontrar com meus orientadores e atualizá-los sobre o que estou fazendo.
No momento, estou fazendo a coleta de dados para minha tese, o que envolve muita mineração de dados em sites governamentais. Quanto à minha rotina diária, geralmente eu acordo de manhã, faço uma xícara de café, coloco um podcast para tocar e passo cerca de 4 horas baixando PDFs.
Carga de Trabalho
A maioria dos meus amigos que fazem doutorado em biologia ou engenharia passa cerca de seis dias por semana no laboratório, trabalhando oito horas por dia, e depois ainda trabalham em suas próprias publicações e coisas do tipo. Então é bem intenso. Mas para mim, tenho tido muita liberdade. Geralmente, faço cerca de seis horas de pesquisa por dia, mas é totalmente flexível. Só trabalho quatro dias por semana.
Acho que o mais importante é o gerenciamento do tempo. Se você estiver fazendo um doutorado na área de humanas e começar a se dedicar realmente ao trabalho da dissertação no primeiro ou segundo ano, você pode facilmente se virar fazendo três a quatro horas de pesquisa por dia, se for consistente.
Mas se você for como eu, no quarto ano e ainda não tiver terminado nada, você está um pouco correndo contra o tempo. Não faça isso😂
Requisitos para Graduação
Meu programa é bem tranquilo em termos de requisitos. Precisávamos de cerca de oito créditos, o que equivale a apenas quatro disciplinas, então concluí o curso no primeiro ano do doutorado. São as mesmas disciplinas que eles oferecem aos alunos de mestrado. Então não é tão difícil.
Não há exigência de publicação. Então, tudo o que temos que fazer é nos formar completando nossa dissertação e defendendo-a. Mas acho que existe um entendimento de que neste campo da política, se você se formar sem nenhuma publicação, você se coloca em desvantagem se quiser seguir carreira acadêmica. Não que seja impossível se recuperar disso. Claro, você pode fazer pós-doutorados e coisas do tipo.
Mas em termos de requisitos obrigatórios, você só precisa escrever sua dissertação e defendê-la, além de fazer quatro disciplinas. É isso.
Sei que o caminho para obter o doutorado é bem diferente de país para país, e até mesmo de departamento para departamento dentro do Japão. Tenho amigos que, por exemplo, estão fazendo doutorado em áreas relacionadas a negócios e marketing. E eles podiam escolher se formar via dissertação ou cumprindo um certo número de publicações. No caso deles, eram três publicações para se formar. Em muitas áreas científicas, eles têm requisitos de dissertação + publicação. Você precisa de três publicações, que constituirão cerca de três dos quatro capítulos necessários para sua dissertação. Então, existem muitos padrões diferentes mesmo dentro do Japão.
As melhores coisas sobre o doutorado
Acho que existem duas coisas que eu realmente amo no meu doutorado. E não acho que teria feito um doutorado se não fosse por isso. A primeira é meu orientador, eu o adoro. Ele é incrível. Sem exagero, provavelmente uma das melhores pessoas que já conheci em toda a minha vida. Quando cheguei ao Japão, ele me buscou no aeroporto, me comprou um café e me levou de ônibus até o hotel. Ele tem sido incrível do começo ao fim, super solidário e encorajador. Acho que se você está embarcando nessa jornada de vários anos, que é bastante estressante e às vezes existencialmente avassaladora, é realmente importante ter esse tipo de apoio. Tive muita sorte de tê-lo e acho que se não fosse por ele, não há chance de eu ter decidido fazer um doutorado. Mesmo que ele faça coisas que realmente me irritam, por exemplo, ele nunca responde e-mails. Conseguir que ele se comunique comigo durante a pandemia tem sido muito frustrante.
A outra coisa é que fazer um projeto de pesquisa realmente grande é muito gratificante. Eu odeio enquanto estou fazendo, quando estou atolada baixando 10.000 PDFs e passando um mês da minha vida apenas clicando no botão de download. Mas quando você chega ao final, olhando para os resultados e vendo que realmente realizou algo incrível e importante para pesquisas futuras, é simplesmente um sentimento difícil de descrever.
Evolução do projeto
Devo dizer que o projeto que estou fazendo agora é apenas vagamente o projeto que propus no início. Então, há espaço para mudanças se você descobrir que está trabalhando de um ângulo que não gosta ou que é muito frustrante. Minha proposta original era fazer apenas um grande estudo de caso de quatro ou cinco crises humanitárias diferentes, mas rapidamente percebi que não havia uma boa maneira de fazer isso. O que acabei fazendo é esta grande análise de machine learning com big data, que é totalmente diferente, mas a ideia central é bem parecida. Então você pode mudar e se adaptar.
Uma das minhas citações favoritas que realmente me ajudou durante o doutorado, sem querer parecer brega por ter uma citação favorita, mas eu a mantenho na minha página do Notion como um lembrete. Desde então esqueci quem disse, mas é basicamente "Se vi mais longe, foi por estar sobre ombros de gigantes". É um lembrete de que estou construindo minha própria pesquisa sobre a pesquisa que outras pessoas fizeram. Não estou sozinha nisso, não é uma busca solitária, mas um progresso constante em direção a uma melhor compreensão.
Coisas surpreendentes sobre o doutorado no Japão
Minha graduação foi em uma universidade americana e havia tanta atenção no trabalho do curso e no que você aprende através dele que a dissertação parece quase um projeto secundário. Claro, ainda é muito significativa e é algo em que as pessoas gastam muito tempo, mas é apenas o passo final para fazer o doutorado. Já no Japão, pelo menos no meu programa, parecia que a dissertação era tudo. Como mencionei anteriormente, eu só precisei de quatro disciplinas antes de passar para o trabalho real da dissertação.
O trabalho da dissertação é quase totalmente sem orientação. Eu posso, é claro, consultar meus professores tanto quanto eu quiser ou não, mas é basicamente liberdade total e independência total. Fiquei realmente chocada por ser simplesmente jogada nisso. Eu deveria encontrar meu próprio caminho, minha própria metodologia. É definitivamente muito desafiador ser inovadora com os recursos que tenho e ser a pessoa responsável por todo o meu projeto.
Do início ao fim, meus orientadores não fizeram realmente nada. Obviamente, eles me deram feedback sobre as ideias que tenho. Se eu vou até eles com uma pergunta, eles podem dizer: "Bem, aqui estão alguns livros que abordam esse tópico" ou "Isso é o que eu penso sobre o que você escreveu até agora", mas basicamente a metodologia, o tópico, o desenho da pesquisa, tudo isso tem sido apenas eu.
Aprendizagem Independente
Quando as pessoas me perguntam o que aprendi como estudante de doutorado no Japão, eu digo que literalmente não aprendi nada com as disciplinas do curso. E isso não é um exagero. Eu fiz disciplinas do mesmo nível como doutoranda no Japão que fiz como estudante de graduação nos EUA. Aqui, o foco não está de forma alguma no que você aprende nas disciplinas. É tudo sobre como você se desenvolve como pesquisador.
O doutorado não é para todos
Eu definitivamente faria um doutorado novamente. Mas acho que isso é apenas minha personalidade. Eu gosto de grandes projetos de pesquisa. Gosto de escrever. Gosto da emoção de descobrir algo que ninguém descobriu antes. Mas antes de entrar em um doutorado, você também precisa se perguntar: Qual é sua motivação? Você quer seguir carreira acadêmica? Você tem um caminho claro em uma indústria que exige que você faça um doutorado?
Se você não tem um motivo claro para fazê-lo, eu não recomendaria, porque é fácil chegar ao final e perceber que não vai ajudar você a alcançar os objetivos que deseja, se você não sabia quais eram esses objetivos desde o início.
A característica que você definitivamente precisa ter é ser orientado a objetivos. Se você é o tipo de pessoa que muda de projeto e nunca leva as coisas até o fim, o doutorado provavelmente não vai funcionar muito bem para você. Acho que você também precisa estar disposto a crescer por conta própria. Não é para o tipo de pessoa que é muito codependente e tem medo de iniciar coisas ou fazer coisas por conta própria sem muita ajuda. Não que haja algo de errado com isso, porque em muitas coisas, eu sou essa pessoa. Mas você precisa ser capaz de se motivar e tomar a iniciativa em sua própria pesquisa.
Planos após o doutorado
Eu realmente espero entrar na academia, adoraria ser professora e pesquisadora. Se ser professora é minha primeira opção, eu ficaria feliz em trabalhar em um think tank. E acho que não há muito espaço para trabalho em think tanks no que estou fazendo no Japão, então provavelmente teria que ser em outro lugar. Mas sim, eu gosto de ensinar. Gosto de pesquisar. Acho que a academia é o que quero fazer.
O que você precisa saber antes de fazer um doutorado
Eu diria que o doutorado não deve dominar toda a sua vida. Acredito que o doutorado é algo para acrescentar ao que você já traz consigo, mas não deve ser sua única identidade nem a única coisa que você está fazendo. Não falei muito sobre isso nesta entrevista, mas quem me conhece, seja pessoalmente ou pelas redes sociais, sabe que tenho muitos outros interesses, um dos quais é aprender japonês, mas também tenho família. Estou cuidando de uma criança pequena e tenho um parceiro com quem gosto muito de passar tempo. E tenho outros hobbies e coisas que faço. Acredito que o doutorado deve complementar as outras coisas que você tem na vida. Não deve ser algo que você faz para encontrar realização pessoal.
O doutorado é um passo, mas não deve ser o único passo que você está dando. Se seu objetivo é entrar na academia, por exemplo, não se limite apenas à sua pesquisa, por favor, desenvolva outras habilidades que vão te ajudar na academia no futuro. Por exemplo, se você não se sente confortável ou confiante com sua escrita, faça um curso de redação. Se você não sabe como fazer trabalhos quantitativos, aprenda a fazê-los, mesmo que você esteja na área de humanas, eu prometo que você vai precisar. Aprenda a fazer programação básica. Existem tantas habilidades que vão tornar você uma pessoa muito mais competitiva depois de ter o doutorado, em vez de pensar que o doutorado é a única qualificação que você precisa para conseguir o emprego que deseja.
